Análise Detalhada e Visão de Futuro: A Estratégia de José Boto no Flamengo

A Escolha de Filipe Luís sob a Ótica de José Boto

A decisão de manter Filipe Luís à frente do Flamengo em 2025, que para muitos parecia óbvia, foi resultado de uma análise aprofundada por parte de José Boto. O novo diretor de futebol do clube carioca baseou sua escolha em critérios sólidos, construídos ao longo de sua trajetória como observador de talentos na Europa. Boto enfatizou que a decisão foi de sua inteira responsabilidade, destacando que poderia ter optado por outro profissional.

?A escolha (por Filipe Luís ) foi de minha responsabilidade. Eu poderia ter escolhido outro treinador. Sou pioneiro, eu e uma equipe que trabalhava comigo no Shakhtar, de uma coisa chamada scouting de treinadores?, afirmou Boto durante coletiva. Ele revelou ter assistido a todos os jogos do Flamengo sob o comando de Filipe Luís por duas vezes, com o objetivo de avaliar tanto o elenco quanto o trabalho do treinador, o que o permitiu perceber nuances táticas que o agradaram.

O que Boto denomina "scouting de treinadores" consiste em uma metodologia de análise que busca alinhar a contratação de um técnico com as características do elenco e a identidade do clube. No caso do Flamengo , o perfil desejado é o de um comandante que priorize a proposição e o domínio do jogo. Essa abordagem diferenciada sugere que a escolha de Tite, antecessor de Filipe Luís , dificilmente seria uma opção para o dirigente português, uma vez que o estilo do ex-treinador não se encaixaria nesses critérios.

O Modelo de Jogo e a Formação de Talentos

A visão de Boto para o Flamengo vai além da escolha de um treinador. O diretor almeja estabelecer um modelo de jogo e de formação que sirva como base para as futuras contratações do clube. Essa estratégia visa consolidar uma identidade e garantir a continuidade do sucesso a longo prazo. Boto acredita que o mercado de transferências deve estar alinhado com essa filosofia, assegurando que as novas aquisições se encaixem no estilo de jogo proposto.

No que se refere à formação de jovens talentos, Boto critica a influência de modelos europeus no Brasil, argumentando que isso prejudicou o desenvolvimento de jogadores. Para ele, a solução está em resgatar a essência do futebol brasileiro, valorizando o "futebol de rua" como um ambiente de aprendizado fundamental. Segundo Boto, a liberdade e a ausência de cobranças excessivas nesse ambiente estimulam a criatividade e a capacidade de experimentação dos jovens atletas.

?O futebol de rua é fundamental para o desenvolvimento do talento dos jogadores. Não só de sua parte técnica, como o tamanho da sua parte cognitiva do jogo, pelo fato de não haver nenhuma diretriz, não haver adultos presentes a crerem que o jogo possa ser jogado da forma deles. Acaba por ser um fator de aprendizagem excelente e, por isso, o Brasil também ter tantos jogadores de qualidade acima da média tem muito a ver, na minha opinião, com esses fatores?, declarou Boto em entrevista ao site ?Footure? em 2020.

Reestruturação da Base e o Resgate da Essência do Futebol Brasileiro

Boto defende que o "futebol de rua favorece porque te dá criatividade, te dá experimentação. Te dá a sabedoria de com quem está a jogar, sem influência dos adultos... Como não há cobrança do erro, o jogador não tem problema nenhum em errar, experimentar, tentar e voltar a tentar. Isso não se passa quando há a presença do treinador adulto, que é sempre aquela cobrança do erro", complementou.

A mudança proposta por Boto engloba as comissões técnicas das categorias de base, especialmente as iniciais. A ideia é que o Flamengo conte com profissionais que valorizem o talento individual, evitando cobranças e treinos excessivamente rígidos. O objetivo é proporcionar um ambiente onde os jovens jogadores se sintam livres para experimentar e desenvolver suas habilidades de forma natural, sem a pressão do modelo profissional.

A abordagem de José Boto para o Flamengo demonstra uma visão estratégica e um profundo entendimento do futebol. Sua metodologia de análise de treinadores, aliada à sua crença no poder do "futebol de rua" e na valorização da base, sugere uma nova era no clube carioca. A intenção é formar jogadores criativos, com um estilo de jogo propositivo, que represente a essência do futebol brasileiro.