A Goleada Histórica do Vasco sobre o Flamengo na Páscoa de 2000

O Clássico dos Milhões Adocicado: Vasco x Flamengo, Páscoa de 2000

Poucos confrontos na história do futebol carioca carregam consigo tanta simbologia quanto o embate entre Vasco da Gama e Flamengo. E, dentre tantos capítulos memoráveis, um se destaca pela contundência do resultado e pela atmosfera peculiar que o envolveu: o Clássico dos Milhões da Páscoa de 2000.

Naquele 23 de abril, um domingo de celebração pascal, o Maracanã foi palco de um espetáculo que transcendeu as quatro linhas. O Vasco, sob a batuta de Abel Braga e ostentando um elenco repleto de estrelas como Romário e Pedrinho, não apenas venceu, mas humilhou o arquirrival Flamengo , aplicando um sonoro 5 a 1 que ecoa até os dias de hoje na memória dos torcedores.

Foto: (Matheus Lima/Vasco/Direitos Reservados)

A Promessa Cumprida e o "Chocolate" Eternizado

Aquele jogo ficou conhecido como o "Clássico do Chocolate", alcunha que se perpetua até hoje. Antes da partida, Eurico Miranda, então vice-presidente do Vasco, já havia inflamado os ânimos ao distribuir 40 mil ovos de Páscoa para a torcida cruzmaltina. Após a vitória, ele cravou:

"Eu não esperava, eu prometi. Você não viu a arquibancada toda dizer que o Eurico prometeu? Eu prometi. Eu prometi dar ovos de Páscoa à torcida e chocolate ao Flamengo."

A profecia se cumpriu, e o Maracanã, tomado por mais de 53 mil vozes, testemunhou um massacre que coroou o Vasco como campeão invicto da Taça Guanabara, com dez vitórias e um único empate.

O Jogo: Do Susto Inicial à Apoteose Vascaína

O Flamengo até ensaiou uma reação inicial. Logo aos seis minutos, Petkovic encontrou Leandro Machado, que abriu o placar de cabeça. Mas a alegria rubro-negra durou pouco. Aos 14 minutos, Felipe aproveitou um rebote para igualar o marcador. A partir daí, o que se viu foi um show de Romário, que, fiel à "lei do ex", marcou duas vezes sobre seu antigo clube, orquestrando a virada e a posterior goleada. Pedrinho , com um gol e uma assistência magistral, selou o triunfo vascaíno.

Amaral ainda teve a chance de ampliar, mas seu chute por cobertura parou no travessão. O resultado final, porém, já era suficiente para eternizar aquele domingo de Páscoa na história do Vasco.

Pedrinho: Gol, Provocação e Confusão

Pedrinho , além de marcar um belo gol, protagonizou cenas controversas. Após balançar as redes, silenciou a torcida flamenguista e, em seguida, provocou os adversários com embaixadinhas na linha do meio-campo. O gesto enlouqueceu os vascaínos, mas também gerou revolta nos rubro-negros.

Juan tentou parar o meia com um carrinho e recebeu cartão amarelo. Fábio Baiano, exaltado, partiu para cima de Pedrinho e foi expulso. Alex Oliveira, em defesa do companheiro, também recebeu o vermelho. Até mesmo Abel Braga precisou intervir para acalmar os ânimos.

Expulsões e a Irônica Observação de Eurico

A partida, marcada por inúmeras faltas, culminou em seis expulsões: Viola, Odvan e Alex Oliveira pelo Vasco, e Luiz Alberto, Beto e Fábio Baiano pelo Flamengo . Eurico Miranda, fiel ao seu estilo peculiar, comentou:

"Cada jogador que o Ubiraci expulsava, era menos um gol que o Vasco deixava de fazer. Se não era para terminar uns oito esse jogo."

A Origem do "Chocolate" no Futebol

Curiosamente, a expressão "chocolate" no futebol surgiu em outra partida do Vasco. Durante uma goleada por 4 a 0 sobre o Internacional, em 1981, o radialista Washington Rodrigues, o Apolinho, utilizou a expressão pela primeira vez, inspirado na música "El Bodeguero", de King Cole. A frase "toma chocolate, paga lo que debes" (toma chocolate, paga o que deves) logo se popularizou no vocabulário futebolístico.